A era da modernidade. Época em que não só a food é fast, mas os amores são mais ainda. Se é que podem ser chamados de amores, ''sexos rápidos'' fica melhor. Pessoas se ''conhecem'', se beijam, transam e deu. É isso, amigos. Sem cerimônias, indo ao que interessa.
Isso não me agrada, nenhum um pouco, mas também não julgo os adeptos. Não vou dizer que nunca me aconteceu, mas isso não me satisfaz, simplesmente porque não consigo não ir além. Digamos que ainda sou do tempo que as pessoas se apaixonavam, de verdade, ligavam- se, combinavam de sair, o homem buscava a mulher em casa, abria a porta do carro. Sim, meus namorados desciam do carro e abriam a porta para eu entrar, parece até período jurássico, mas isso acontecia há pouco tempo ainda...
Penso nos prejuízos que essa praticidade amorosa trouxe para várias pessoas, além de nós mesmos: restaurantes, cinemas e floriculturas, nossa, essas devem tirar seu sustento no dia das mães, finados e olha lá. Flores, hoje em dia servem apenas para isso: mães e jazigos. Os homens não sabem que as mulheres moderninhas, seguras de sí, adoram a clichezisse de receber flores, e acompanhadas de um cartão, então, a nossa breguisse interior agradece: chorar ao saber que tem alguém que preocupa-se em nos mandar um agradinho, por mais que ele vá para o lixo em alguns dias.
Atualmente o orkut e o msn facilitaram tudinho, e acabaram com os últimos suspiros agonizantes do romance, que já não ia bem desde que as mulheres inventaram a vingança contra os homens: agir como eles, feito animais irracionais. Assim definem-se os relacionamentos de hoje: conversas casuais no messenger, como não têm mais nada de bom para fazer, que resultam em encontros ainda mais superficiais. Após isso as pessoas só vão se ver de novo se derem a sorte de estarem online ao mesmo tempo. Se não, por mais que seja a vontade de um novo encontro, isso não acontecerá de novo.
Ninguém usa mais o telefone, muito menos o poder de sedução. Aliás, ninguém ousa mais se machucar. Preferem algo superficial à vulnerabilidade. Estamos tão modernos, mas tão modernos que nem uma adaptação do filme ''Romeu e Julieta'' poderia ser feita, como aconteceu há 12 anos. Simplesmente porque as Julietas e os Romeus que viviam em cada um de nós, morreram de desgosto.
Conversava sobre isso com minhas amigas esses dias: a maioria das pessoas são adeptas da postura "não vou me envolver. E se der errado? E se eu sofrer?'' Claro, vá que dê certo e duas pessoas se apaixonam e vivem momentos felizes, né? Melhor ficar no vazio da mesmisse da vida. Odeio falta de atitude, de coragem, de histórias para contar.
Já sofri muito por amor, e hoje estou aqui, vivinha da Silva, não tenho medo de chorar até lavar a alma, atirada no chão, achando que não vou conseguir mais viver. Não tenho receio de ir dormir chorando e acordar chorando. De emagrecer ou engordar por conta da tristeza. De achar que meu coração, que foi arrancado e pisoteado, nunca vai sarar. Não tenho medo das discussões intermináveis, que dão até vontade de matar o indivíduo. De achar que vou passar o resto da vida com um homem e depois ver que não é isso. De saber que eu posso ter alguém, só meu, que poderei ligar as duas da manhã porque aconteceu algo, ou apenas para agradecer por estar na minha vida. De imaginar meus filhos com outra pessoa. Do conforto de ter um amigo para envelhecer junto. Da vergonha e ansiedade causada pela janta para conhecer a família dele. De bater na cara dele com as flores presenteadas por alguma mancada. De ficar doente e ter alguém para me cobrir e me dar remédios. De ouvir verdades que doem, sobre meus defeitos, mas ditas com o intuito de tornar-me melhor. Não tenho medo de descobrir que aquela pessoa é cheinha, mas cheinhaaa de defeitos, e o mais fantástico é saber que sou capaz de amá-la mesmo assim, e esses defeitos tornam-se apenas parte do seu charme.
As pessoas não querem mais isso. As pessoas não querem mais merda alguma! Apenas relacionamentos que não causem danos. Só um aviso: não há bônus sem ônus, diria meu oftalmologista. A felicidade de alguém é proporcional a profundidade do seu envolvimento. E o sofrimento também, mas as lágrimas nos lembram que estamos vivos.
P.S.: Colaborou neste texto com correções e sugestões, "Dom" Chico.